sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Rosa

Era uma vez uma menina magrinha, pequeninha... Ela possuía o cabelo mais longo e liso que pudéssemos imaginar e as unhas pequenas, roídas por uma suposta ansiedade que ela já adquirira de nascença.
Essa menina estava se descobrindo na idade de 13 anos. Tudo mudava, e ela já definia sua personalidade mandona e seu jeito controlador de tudo. Não era por menos, havia uma irmã que ela precisava cuidar, e as responsabilidades bateram cedo à sua porta.

Essa menina acabara de mudar de colégio, acabara de trocar todo o seu ciclo de amizades e descobria, a todo tempo, que não poderia confiar em ninguém, mesmo em amigos.

Enfim, começava ali um ano que ela jamais esqueceria, passada sua vida inteira...

O colégio nao era o mesmo. A classe era mais reduzida e cada cabeça era uma oportunidade de conhecimento e crítica. Por não ser atirada, odiava chamar atenção. Seu lugar preferido era o mais escondido de todos, pra observar. Seus olhinhos pretos eram os mais curiosos possíveis. Nada lhes escapava.

Início de Ano Letivo. Cadernos novos e livros cheirando... Havia várias coisas a aprender naquele ano. Mas uma delas atraía muito a menininha encabulada: Ler. Ela passava dias e dias lendo romances de escola. Com linguagens simples, textos coloridos, desenhos animados, ela dava asas a imaginação e flutuava com cada historinha. Havia um livro, em especial, que até hoje a marcou muito. Era um romance que se chamava "A marca de uma lágrima" e que todos os jovens deveriam ler. Esse livro foi a prova de que o universo daquela menininha poderia se transformar e fugir de seu controle. Foi uma preparação pra um futuro que ela nem imaginava.

Os dias foram passando e, a medida que, trabalhos e provas eram feitos, a união do grupo se extendia. Aquela menininha passou a conquistar a todos, e foi eleita representante de sala. Nossa, pra ela era um sonho estar ali, na posição oficial de líder. E exercera todas as responsabilidades que lhe impunham.

Descobriu no elo de amizades que haviam meninos interessados nela. E como era bom sentir-se desejada com 13 anos de idade! Era um sinal de que não estava se transformando em um monstro, como achava. Mudanças hormonais a atormentavam o dia inteiro. Ela não gostava de suas pernas, de seus pêlos, de seu nariz. Ficava muito triste ao chamarem-na de apelidos que ressaltavam qualquer dos defeitos.

Mas ninguém sabia de um dos seus maiores desgostos até então. Nas férias que antecederam a vinda pra este novo colégio, essa menina tinha aprendido a beijar. Mas não era por paixão. Era por objetivo! Havia uma pessoa, em especial, que ela nunca poderia se aproximar se não soubesse beijar. Um certo vizinho, tipo ideal de namorado, que vez ou outra lhe piscava os olhos ao passar por sua porta. Aparentemente, era uns dez anos mais velho que ela. Mas, e daí? Daí que ela precisava saber beijar pra ele. E aprendeu! Aprendeu longe de casa, no Ceará, em uma fazenda muito linda e romântica. Mas, pra menina, era tudo muito racional. Dar beijo naquela idade era como jogar tudo pela janela. Esquecer bonecas, gibis, desenhos de tv. A menininha estava rompendo mais uma fase, que lhe traria muitas saudades.

E conseguiu o seu objetivo final. Beijou o segundo cara da sua vida. E como foi bom! Aquilo que era beijo, com paixão. E não precisa contar que ela passava dias sem dormir pr causa de um único encontro com seu admirado.

Foi justamente nessa fase de ilusões que ela se aproximou de um menino de escola. Da mesma sala, ele era tão parecido com ela que a assustou. E ele fazia aniversário um dia depois do dela. E ele morava pertinho dela!!!! Quantas coincidências. Pra ela, ainda era uma obra do acaso. E começaram a passar tempos juntos. E começaram a se aproximar. Mas a menininha não dava conta do que estava a acontecer. Até que um pedido e um beijo chamaram sua atenção. "Quer namorar comigo?" E tudo ficou sério demais. A menininha esqueceu o admirado, aquele por quem perdeu suas noites. E o admirado se espantou ao vê-la de mãos dadas com outro.

Duas crianças. Eles formavam um casal bonito. Todos dois eram do mesmo tamanho. Ele gostava muito de futebol, e ela gostava de escrever sua agenda. Eles saíam, riam, e se divertiam muito. Ficavam horas na parte de baixo do prédio namorando.

Até que um mês depois...

A menininha acordou e viu sua barriga inchada. Assustada, ela sabia que não poderia ser besteira. Havia menstruado os últimos meses seguidamente, inclusive na viagem ao Ceará. Foram a vários médicos e nenhum conseguia dizer, em exato, o que ela tinha. Nunca havia tirado a roupa pra tantos médicos antes. E nada! Cogitaram a hipótese de uma gravidez, mas não poderia ser. A menininha não sabia nem beijar direito, qto mais fazer aquilo que a deixava envergonhada de falar. Até que uma ginecologista se pronunciou a respeito de uma cirurgia, que a deixou em pânico. Nunca gostou de médicos e fugia de agulhas e injeções. Agora teria que se acostumar com a idéia de uma operação.

Foi tudo muito rápido. Questão de dias. O que mais preocupava a menina era sua mãe, que estava visivelmente aflita. Pra ela, era tudo mais confuso. Até que viu a luz branca de uma imensa sala vazia e silenciosa. Ali, indefesa, sentiu a dor insuportável da anestesia e os olhos pesados de sedativos.

Dois dias depois já estava querendo pular da cama. O cisto no ovário foi tirado e ela não entendia porqque ainda precisava se alimentar de sopas horrorosas. Ainda não podia falar, quando recebeu a visita de seu namoradinho no hospital.

Dias depois, a menininha já estava em casa, se recuperando, quando avista na porta um buquê de flores maior do que a pessoa que o está segurando. Era ele. Aquele menino que a recebia de volta com felicidade. E como esse momento foi especial. As primeiras rosas dadas por aquele que a via como a menina mais linda do mundo. Mesmo meio desarrumada, com a cor de hospital, ele a admirava. Nesse momento ele não viu, mas ela o colocou dentro do seu coração.

Essa menininha teve a sorte de encontrar um amor. Estava todos os dias com ele. Apesar de crianças, eles se entendiam. O romance A marca de uma lágrima passou a ser visto com olhos mais românticos por ela, que lia cada trecho remetendo à sua história ingênua de amor.

Mas, como dizem que as pessoas só dão valor quando perdem, a menininha precisou perder pra saber o que sentia. Para o aprendizado dela, faltava a decepção pra tudo ser enxergado como foi. E aconteceu...

Completados três meses de namoro eles brigaram por ciúmes dela. Ela era tão nova e já sabia o que era posse. Já tinha na personalidade um sentimento de controle. Por causa disso, ela não achava justo ele não lhe contar quem seriam as cinco meninas da sala que estavam afim dele. Algo desesperador lhe deixou cega e o orgulho falou mais alto. Ela colocou um ponto final no que seria aquele relacionamento. Virou as costas e procurou um lugar pra se esconder e chorar.

E esse lugar tornou-se seu ponto de desabafo. Cada dia que passava, mais dor sentia por ter se afastado daquele menino, e ela chorava. Ela não podia deixar de vê-lo na escola. Tinha contatos dolorosos com ele na sala. Mas seu orgulho permaneceu. Era o sofrimento do PRIMEIRO AMOR. Do único sentimento que lhe trouxe aperto no peito e despertou o que ela tinha de mais ruim. Ele sofria também. Ela conseguia ver isso nos seus olhos. Mas não adiantou.

Terminado o ano letivo, ela não conseguiu notas boas. E recebeu a notícia de que ele também havia perdido o ano escolar. Um desespero invadia sua mente ao imaginar que poderiam se ver, na mesma sala, no ano seguinte... Porém, ele mudou-se de escola.

E o tempo passou... E essa menininha aprendeu a gostar de outras pessoas. Aprendeu a ser menos impulsiva. Aprendeu que o tempo apaga detalhes. Mas não é raro ela se pegar arrependida do passado. Afinal, a marca de uma lágrima nunca é esquecida por quem viveu uma história de amor...

2 comentários:

O Sibarita disse...

Ai Deus do céu! kkkk

Nara, Nara! kkkkk

Que texto heim? Voc~e se revela cada vêz mais numa boa autora, faça fé!

bjs
O Sibarita

Anônimo disse...

Texto como esse não pode ser visto apenas uma vez. Não me canso de olhar este "nosso" espaço, por motivos já explicados...


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