Hoje assisti o filme "Ônibus 174". Eu sei que é meio tarde para se falar nele, mas gostaria de expressar um pouquinho o sentimento contraditório que me toma de repente...
O que seria mais um roteiro de filme brasileiro, aconteceu de verdade, com toda a violência e dramaticidade que o brasileiro está acostumado a ver nas produções cinematográficas. No dia 12 de junho de 2000, um rapaz chamado Sandro Barbosa assaltou um ônibus no RJ. Seria mais um na estatística se não fosse a atração policial e as câmeras a notificar tudo. O rapaz acabou ficando encurralado no ônibus, junto com alguns reféns. No final de quase cinco horas de horror, Sandro se entregou com uma das reféns, que acabou sendo morta por causa de um ataque surpresa dos policiais.
Como havia dito aqui, a justiça tem que prevalecer sobre os inocentes, sempre. Mas o que o filme me fez pensar hoje, faz com que essa idéia de inocente ou culpado não exista.
Por exemplo, Sandro. A princípio era apenas mais um ladrão, que acabou se dando mal. Um desses que a gente encontra na esquina, e que só roubam pra se drogar. Mas... Quem era ele? De onde ele veio? O filme conta a história de Sandro, invertendo os papéis. Sandro não é mais um marginal. Sandro era um menino que viu sua mãe ser degolada, que dormia na rua e que presenciou a Chacina da Candelária. Era um menino que tinha sonhos... Uma vítima da sociedade...
Ele, bem como milhares de meninos de rua, não teve a chance de trabalhar, de crescer, de ser alguém. Hoje mesmo, indo ao trabalho, um menino de uns 10 anos parou ao meu lado, vendendo pastilhas para garganta. Aquilo é a cena de todos os dias. Olhei nos olhos dele, que observava atentamente cada detalhe do interior do carro. Talvez, aqueles olhos curiosos nunca saibam o que é ter um carro, o que é ter roupas limpas, o que é estar protegido na sua vidinha esperando o tempo passar para ganhar seu dinheiro e poder comprar futilidades. A realidade dele é diferente da nossa. Bem diferente...
Mas, do outro lado, também não estamos bem. Há um conflito de interesses, onde sofremos porque outros sofrem. Se não passamos fome, somos roubados. Se não moramos na rua, temos nossas casas invadidas por balas perdidas. E se reagimos a tudo isso, somos mortos por uma simples vontade de comprar drogas. Caramba...
Sandro era vítima, e também mais um culpado. Nós somos vítimas e também culpados. Sim, porque há sempre o culpado... e há sempre vítimas. A questão que liga tudo isso é a desculpa de cruzar os braços. "Se ainda não me atinge, não farei nada". "Se nasci pobre, morrerei pobre". Sempre o comodismo a acreditar que nada muda.
Então, deixamos de lado os Sandros que matam e roubam todos os dias... Vamos ser nós, os autores dos crimes da sociedade. Vamos ser nós, a assistir a sociedade de forma diferente do que apenas pela televisão...
Um comentário:
Sua menina! Belo texto que nos faz reflexionar...
bjs
O Sibarita
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