quinta-feira, 22 de outubro de 2009

EXPOSIÇÃO SOFHIE CALLE- Cuide de você

É bem verdade que as palavras movem moinhos, como já dizia o ditado dos tempos de minha avó. Elas servem para construir sonhos e destruir castelos, de uma só vez. Mas, mesmo sendo tão simples de entender, elas possuem tantas e tantas interpretações, de acordo com cada ser que dela ouve, lê ou sente.

Os diferentes sentidos das palavras causam algumas confusões, para emissores e receptores do processo, porém é compreensível tentar entender cada letrinha, no contexto geral e específico, e daí estudarmos o que se quis passar com aquilo.
E, baseado no processo de interpretações, hoje venho falar de uma Exposição maravilhosa que andei frequentando nesse mês. Não poderia ser voltado a outro público-alvo senão mulheres- esses seres incríveis que conseguem captar essências nos diálogos masculinos menos compreensíveis ao mínimo de inteligência possível.
SOFHIE CALLE- "CUIDE DE VOCÊ"
Com dois espaços dentro do MAM, a exposição agrada aos olhos das mais sensíveis, com vídeos, fotografias, textos, encenações e a própria carta escrita pelo companheiro, traduzida em português.
Sofhie Calle é uma francesa que sofreu uma ruptura de relacionamento através de uma carta. Assim como todas as mulheres, ela quis tentar entender o que as poucas palavras deixadas pelo companheiro significava para seu sentimento. Resolveu, então, montar uma exposição da qual traduzia, em diversos aspectos, sua dolorosa experiência emocional.
Levou a carta para 107 mulheres diferentes, com diferentes profissões, para que estas pudessem interpretar, à sua maneira, todo o conteúdo escrito.
Em certo momento da exposição, as mulheres são convidadas a sentar em uma cadeira e ouvir (em francês- com tradução no monitor) uma conversa entre ela (Sofhie Calle) e a carta- simbolizando o ex-companheiro, deixando a outra cadeira vazia. Essa experiência nos leva a um profundo questionamento de nós mesmas e dos nossos relacionamentos. A outra cadeira permanece vazia, propositalmente, como se, ao vê-la questionar os valores do relacionamento, pudéssemos, também, nos colocar na cena.
Na exposição, também contamos com a ajuda de um manual, que nos orienta em cada profissão, em cada tradução, contando diversas interpretações de cada fotografia. Nessa fotografia, por exemplo, nota-se que a interpretação dada do final do relacionamento é semelhante à partida do jogo de xadrez, onde o rei se sente desmotivado e desiste, mesmo que não ameaçado.
Mas o que me fez refletir todo o processo intenso de uma carta vazia e sem sentimentos foi o final, onde ele assina "Cuide de você". Semelhantemente à meus desapegos, quando quero que alguém vá embora da minha vida, digo sem piedade "Se cuida", como se isso, de fato, tirasse o peso da responsabilidade de mim. Mas, ao menos, nunca escrevi uma carta, como despedida. Independente de como a pessoa queira se livrar da outra, a atitude menos digna é sumir dexando letras no papel...


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