sábado, 12 de fevereiro de 2011

ATOS DE AMIZADE

Sempre escolhi a doação como uma forma de vida. Não uma doação falsa, sem objetivação ou propósito. Uma doação com vírgulas, com recheio de quero mais.


Questionar a falta de amizade no mundo me fazia ser além de ser um amigo. E eu ia ao pé da letra mesmo. Trouxe isso comigo, essa compaixão de satisfazer mais aos outros do que a mim.


Sempre achei que fosse melhor se entregar a se omitir. Sabe aquele lance de “sou 100% você”? Pois é. E isso advém também do meu signo de amigos, aquário, cheio de amor pra dar.


No curso, era sempre eu que propunha as festas. Na faculdade, eu sempre motivava a galera a se enturmar e eu era enturmada. Gostava (e ainda gosto) de ser próxima de todos e mobilizar grupinhos. Sabe aquela menina esquisitinha? Eu amava seu jeito. Sabe aquela outra meio quieta? Eu era amiga pessoal dela. Aconselhava os tristes, animava os chorosos, brincava com os populares, ria com os filósofos. Sentia necessidade de me aproximar para, quem sabe, ser algo na vida das pessoas.


E pensando em ajudar que eu me doava. Passar horas do dia ouvindo um desabafo de um amigo era gratificante, porque me sentia importante em estar ali, presente. Mais do que uma voz, o ser humano precisa de alguém por perto pra se sentir protegido, consolado, apoiado. Ir ao cinema pra fazer companhia ao solitário? Podia me chamar a hora que fosse, estava lá. E nisso ia construindo meu ciclo de amizades, me unindo aos tagarelas, aos sisudos, aos introvertidos, aos extravagantes, na alegria e na sua tristeza...


Mais um dia olhei para o lado e estava sozinha. Não havia quem precisasse de mim. E clamei pelas alegrias, pelas estórias. E o eco doeu mais do que o pedido de socorro. Eu teria que mostrar que também precisava de alguém, e que esse alguém também era importante pra mim. Amizade é isso, não é? Tentei. E, como havia acostumado a todos de minha doação, exigir um amigo perto de mim era tão humilhante como pedir o pão que acabara de ofertar.


E, ainda que uma vez, o amor que tanto doei, nunca me pareceu tão platônico...

(Autor: Nara Senna)


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