segunda-feira, 1 de agosto de 2011

RITMOS E LETRAS

Aproveito meu espaço aqui no mundo virtual para desabafar sobre alguns assuntos polêmicos que saem na mídia e que, em particular, mexem com minha opinião também. A bola da vez é o Projeto de Lei que anda sacudindo as opiniões baianas no mundo musical. A Deputada Luiza Maia, do Pt, propõe que o poder público seja proibido de contratar artistas que “em suas músicas, danças ou coreografias desvalorizem, incentivem a violência ou exponham as mulheres à situação de constrangimento”.

Nasci na Bahia e sempre fui muito ligada a música. Passo horas analisando ritmos, e adoro pesquisar letras e contextos. Nada foge de mim quando o assunto é música. Eu tenho orgulho de dizer que canto e danço algumas músicas de pagode e de axé, que são os ritmos predominantes na capital. Mas, já tinha reparado que o desrespeito e a falta de moralidade em certas letras fica cada dia mais evidente em álbuns e músicas de moda. É um tal de "me dá a patinha, sua cachorrinha" e "tá toda metralhada...".



Aqui na Bahia existe grupos e grupos de pagode. Existe aquele pagode light, como Harmonia do Samba (que tem nas suas letras um pagode saudável, romântico e legal), e pagode baixo-astral, que nem ouso escrever o nome (por si só já remete à outra idéia). E vemos claramente quem permanece e quem é esquecido com o tempo.

Os cantores se defendem alegando que o duplo sentido está implícito na Bahia, e que as letras são só a expressão do povo. Peraí... Onde está duplo sentido em chamar uma pessoa de cachorra?
(Ai que saudade do tempo onde mensagens subliminares eram críticas à política tão somente...)

Eu aprovo esse Projeto de Lei não só por achar que essas letras desrespeitam as mulheres (acho que desrespeitam a todos), mas por ser a favor de um nível musical mais alto. Não é preciso cantar pornografias para se ter sucesso.

Eu realmente lamento por morar em uma cidade onde já criamos tanto em termos musicais, produzimos artistas e cantores conhecidos mundialmente, e hoje, obrigados a ouvir moda dita "popular" e sem conteúdo...

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E, em homenagem à nosso poder de decisão em meio a tudo que nos é ofertado, achei um lindo poema, que quero repassar aos meus leitores. A autora é de Portugal.
Não, não quero ouvir. Posso? Não ouvir?
Se continuar a fazer coisas de miúda toda a gente vai achar que eu sou uma miúda e aos miúdos perdoam-se algumas coisas.
Não quero ouvir. Pode ser?Perdoas-me se não ouvir?
Podes falar na mesma e eu estarei a olhar para ti com ar inteligente mas só isso. Só o ar. Inteligente. Porque não estarei a ouvir.
Posso? Fingir que não ouço?E que está tudo bem?
Que algumas das palavras que ouvi não foram ditas?
Que foi um daqueles sonhos que às vezes sonho em que se mistura o que se disse,
o que ficou por dizer, o que jamais se dirá e o que é ainda o espírito do que pode vir a ser.
E na confusão do suor do sonho e da vigília perde-se o que se sonhou e o que se ouviu.
Só desta vez, sim?Para a próxima prometo que ouço.
Mas sabes, há alturas em que conheço tão bem os limites do meu entender
que te asseguro, que é melhor para todos, que eu me ponha a fazer uma coisa realmente estúpida.
Aos miúdos perdoam-se as coisas estúpidas.
Aos surdos, será que também?


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