Aproveito meu espaço aqui no mundo virtual para desabafar sobre alguns assuntos polêmicos que saem na mídia e que, em particular, mexem com minha opinião também. A bola da vez é o Projeto de Lei que anda sacudindo as opiniões baianas no mundo musical. A Deputada Luiza Maia, do Pt, propõe que o poder público seja proibido de contratar artistas que “em suas músicas, danças ou coreografias desvalorizem, incentivem a violência ou exponham as mulheres à situação de constrangimento”.
Nasci na Bahia e sempre fui muito ligada a música. Passo horas analisando ritmos, e adoro pesquisar letras e contextos. Nada foge de mim quando o assunto é música. Eu tenho orgulho de dizer que canto e danço algumas músicas de pagode e de axé, que são os ritmos predominantes na capital. Mas, já tinha reparado que o desrespeito e a falta de moralidade em certas letras fica cada dia mais evidente em álbuns e músicas de moda. É um tal de "me dá a patinha, sua cachorrinha" e "tá toda metralhada...".

Aqui na Bahia existe grupos e grupos de pagode. Existe aquele pagode light, como Harmonia do Samba (que tem nas suas letras um pagode saudável, romântico e legal), e pagode baixo-astral, que nem ouso escrever o nome (por si só já remete à outra idéia). E vemos claramente quem permanece e quem é esquecido com o tempo.
Os cantores se defendem alegando que o duplo sentido está implícito na Bahia, e que as letras são só a expressão do povo. Peraí... Onde está duplo sentido em chamar uma pessoa de cachorra?
Os cantores se defendem alegando que o duplo sentido está implícito na Bahia, e que as letras são só a expressão do povo. Peraí... Onde está duplo sentido em chamar uma pessoa de cachorra?

Eu aprovo esse Projeto de Lei não só por achar que essas letras desrespeitam as mulheres (acho que desrespeitam a todos), mas por ser a favor de um nível musical mais alto. Não é preciso cantar pornografias para se ter sucesso.
Eu realmente lamento por morar em uma cidade onde já criamos tanto em termos musicais, produzimos artistas e cantores conhecidos mundialmente, e hoje, obrigados a ouvir moda dita "popular" e sem conteúdo...
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E, em homenagem à nosso poder de decisão em meio a tudo que nos é ofertado, achei um lindo poema, que quero repassar aos meus leitores. A autora é de Portugal.

Se continuar a fazer coisas de miúda toda a gente vai achar que eu sou uma miúda e aos miúdos perdoam-se algumas coisas.
Não quero ouvir. Pode ser?Perdoas-me se não ouvir?
Podes falar na mesma e eu estarei a olhar para ti com ar inteligente mas só isso. Só o ar. Inteligente. Porque não estarei a ouvir.
Posso? Fingir que não ouço?E que está tudo bem?
Que algumas das palavras que ouvi não foram ditas?
Que foi um daqueles sonhos que às vezes sonho em que se mistura o que se disse,
o que ficou por dizer, o que jamais se dirá e o que é ainda o espírito do que pode vir a ser.
E na confusão do suor do sonho e da vigília perde-se o que se sonhou e o que se ouviu.
Só desta vez, sim?Para a próxima prometo que ouço.
Mas sabes, há alturas em que conheço tão bem os limites do meu entender
que te asseguro, que é melhor para todos, que eu me ponha a fazer uma coisa realmente estúpida.
Aos miúdos perdoam-se as coisas estúpidas.
Aos surdos, será que também?